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Guardando coisas


Segunda-feira, 02.01.12

Uma questão de vergonha?

Pouco antes da quadra natalícia, em breve peça televisiva, analisavam-se os dados respeitantes à agricultura nacional recolhidos pela Pordata. O valor desta recolha, neste e nos mais variados campos da realidade lusa, ao alcance de todos, é enorme e muito se deve ao trabalho de coordenação do Drº António Barreto. Da leitura que a jornalista pode então fazer ressalta um declínio tremendo quer da área cultivada, quer o valor gerado por esta actividade, quer do numero de pessoas que se dedicam a esta actividade tradicional no nosso país, quer ainda no numero de jovens com menos de 23 anos que a ele estão ligados, actualmente só cerca de 7000. Já durante o Natal pude conversar autênticos pequenos agricultores que tristemente vaticinavam o seu próximo fim bem como o de muitos outros que como eles se dedicam a esta actividade esmagados que serão pelos reduzidos preços que lhes pagam pelos produtos que arduamente produzem. A azeitona, por exemplo, há meia dúzia de anos era comprada a 0,56 € e agora estão a pagá-la por 0,22€ exemplificava, não esquecendo de mencionar que os custos de produção entretanto aumentaram para o dobro. O mesmo tipo de constatação poderá ser efectuado para os mais variados tipo de produtos agrícolas sujeitos à imposição de preços que as grandes superfícies comerciais efectuam escudadas no seu poderio económico esmagando continuamente os preços e inviabilizando a existência de pequenas e médias explorações agrícolas em detrimento de grandes grupos e da importação de produtos dos mais variados pontos do mundo. De pouco terá assim servido a estes produtores a construção de grandes barragens como Alqueva já que pouco diferem os uso e posse da terra e demais circuitos de tratamento e comercialização. Claro que passaram a existir mais olivais e vinhas de grandes extensões, mas esses não são pertença dos pequenos e médios agricultores e muitas das vezes nem são sequer pertença de nacionais, faltando ainda ser avaliados os efeitos que um uso tão intensivo da terra e de produtos fitossanitários trarão aos campos alentejanos. Conhecedor de que o drº António Barreto foi um ministro da agricultura de anterior governo do Partido Socialista e que personificou a lei da extinção da Reforma Agrária que tanto deu que falar e que tanta agitação trouxe ao país e ao Alentejo em particular perguntei-me como se sentiria aquele homem ao ver que os dados que tão brilhantemente ajudara a colectar e tratar demonstrarem inequivocamente o mal que a sua acção governativa trouxera á actividade agricola nacional. Os homens que, como ele e com ele, se empenharam em destruir a reforma agrária e que hoje podem comparar os níveis de ocupação da terra e de produção que então eram atingidos com os actuais deveriam, em meu entender, sentir uma imensa vergonha do trabalho que efectuaram. Talvez esse sentimento seja arredio das suas almas porque ontem como hoje o objectivo não era por Portugal a produzir mais e criar mais emprego mas devolver e manter a posse dos meios de produção nos grupos e nas pessoas que sempre os detiveram com os resultados que os dados que a Pordata tão bem documenta e que tão bem sentimos nas continuas reduções de condições de vida que nos querem impor.

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por guerrilheiro às 16:16


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