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Ao acaso no tempo ocorrem coisas de que gosto nesse momento:fotos;ditos;textos; pensamentos meus e doutros. Juntar esses instantes é só o que almejo. Se a sua partilha contribuir para melhorar algo neste mundo tanto melhor.
Até quanto? Até onde? Até quando?
Acertámos na mouche quando, perante as constantes exigências do patronato português e dos muitos que o servem aquém e alem fronteiras, perguntávamos: até onde poderemos ceder na defesa dos direitos e regalias? Até quanto poderemos baixar os nossos rendimentos sem colocar em causa uma vida digna? Até quando poderemos aguentar tantos ataques á qualidade de vida que conquistámos com suor , lágrimas e quantas e quantas vezes também sangue?
Qualquer observador minimamente atento á realidade portuguesa especialmente, e ao restante panorama que nos rodeia , não poderá deixar de ao menos uma vez se ter colocado estas três interrogações.
A estas podemos juntar outras como por exemplo :onde está o desenvolvimento apregoado ou a melhoria da qualidade de vida?
No inicio da década de 90, os salários então praticados eram em alguns casos exatamente os mesmos que hoje são pagos a muitos dos profissionais portugueses. A este facto há que pelo menos somar dois fatores importantes : os aumentos da inflação verificados todos estes anos e a passagem para o euro que veio encarecer sobremaneira todos os produtos e serviços.
No inicio da década de 90 apontavam-nos alguns países asiáticos, os do triangulo dourado, como aqueles a quem nos devíamos comparar, quer pelos baixos salários quer pelos índices de produtividade que apresentavam. Depois, conforme outros países foram entrado para a CEE, começaram as comparações com os países do leste europeu .Hoje é com a China que desempenha esse papel.
Contrariamente ao que nos prometeram para que entrássemos na EU, não nos querem nivelar pelos salários e demais direitos regalias praticados nos países do norte da Europa ,mas sim com os altíssimos níveis de exploração praticados noutras paragens, que vão alterando consoante os interesses de quem tem mandado.
Cada vez que nos colocam a espada ao pescoço e exigem que baixemos os já magros rendimentos quer porque a empresa não vende ,ou ao invés , por que há que fazer para fazer um novo produto ou ganhar um novo concurso, perguntamo-nos:- E se ganharem outros concursos, ou inventarem outro produto, vamos continuar a aceitar a redução do nível de vida? Até quando vamos admitir que tal aconteça?
Havia uma garantia mínima é certo, nunca poderiam baixar do salário mínimo nacional .
Essa garantia, das mais pobres das soluções, explodiu quando um atual governante, que dá pelo nome de Hélder Rosalino, declara que pode ter funcionários públicos com salários zero.
Assim mesmo, salários zero, e nem acrescentou que poderiam fornecer pão e água aos escravos.
É preciso recuar mais, centenas de anos atrás , aos tempos em que Bem Hur ou Spartacus, escravos, a quem pelo menos davam pão e água, se revoltaram contra o império romano.
Tinham pão e água, e mesmo assim houve um dia que não suportaram a escravidão e juntaram os seus semelhantes na desgraça, e enfrentaram os exploradores de Roma.
Desconheço quanto mais há que recuar para além do tempo de Ben Hur e Spartacus para encontrar situação tão desavergonhada e desumana como a apontada por Hélder Rosalino. Sei contudo, que tudo tem um limite e que este pode ser atingido de diversas maneiras, uma delas é o bom senso, outra a que experimentou Massala, o governador romano de então.
Na porta errada
O homem do fraque bate sempre à mesma porta.
De súbito parece que o clamor das ruas extravasou as paredes dos prédios que pareciam limitá-lo , galgou telhados e ultrapassou fronteiras.
Não faltam agora personagens a procurar despir o casacoo austero com que até agora se pavoneavam para vestir apressadamente outro, com uma tonalidade mais social ,mais humana.
Talvez pela proximidade das datas tão caras que o povo português e os trabalhadores do mundo inteiro agora celebram ,estas personagens enquadram-se perfeitamente na estrofe que muito adequadamente cantámos pouco depois do 25 de Abril:
” Cravo vermelho ao peito
A todos lhes fica bem
Sobretudo faz jeito
A muitos filhos da mãe”
Depois de anos de má gestão em que todos os que se enquadram no chamado” arco governamental” PS;PSD; CDS assinaram o famigerado acordo com a troika estrangeira. Contaram para isso com o compadrio das entidades patronais e da UGT.
Que era necessário, que não tínhamos outro caminho para sair da crise diziam então.
De nada adiantaram os alertas e os protestos de outros que mais avisados, e sabemos todos agora, mais sabedores e mais bem intencionados e em nome de uma crise que diziam querer ultrapassar passamos de uma divida de 94% em 2008 para outra de 123% em 2012.
Pelo meio fecharam empresas em catadupa num movimento que parece não cessar e sobretudo aumentaram-se as dificuldades de quem vive do seu trabalho impedindo até o acesso a este a mais de 1 milhão dos portugueses.
Destes desempregados, mais de metade sobrevivem sem sequer receber o subsidio que lhes seria devido a essa triste condição.
Não havia nada que saber, a roda já estava inventada. Bastava que tivessem tido a sabedoria de estar atento às palavras de Carlos Carvalhas em 1999 ou mais recentemente ás dos economistas Ferreira do Amaral ou Octávio Teixeira .
Enquanto mudam de jaqueta lá foram dizendo que sim senhor compreendem muito bem as privações dos demais que são duras mas necessárias. Renegociar o mal que fizeram ? Não senhor, nem prazos, nem juros nem montantes. Isso é bom para gregos para nós orgulhosos portugueses nada disso .
Por fim quando o grito de indignação que lhes entra gabinetes adentro lhes começa a cheirar a revolta lá enfiam o casaco á medida do tempo que corre e desatam todos a dizer que basta de austeridade, que atingimos o limite; que temos de olhar para as pessoas que tem de haver preocupações sociais, que a austeridade tem de ser acompanhada de crescimento. Até de Bruxelas o ex MRPP fervoroso e ex primeiro ministro que abandonou Portugal ao primeiro aceno com um belo e tacho com que da Europa lhe fizeram, já diz que basta, que cedeu demasiado a conselhos dos tecnocratas, e espera confiante que essa sua cedência,a que tantos sacrificios causou aos portugueses não lhe traga qualquer assumpção de responsabilidade ,como sempre .
Parece que Mário Soares; Manuela Ferreira Leite; António Seguro; António Costa ; João Proença , António Saraiva e Durão Barroso e tantos outros que agora viram a casaca tão apressadamente descobriram a pólvora ,que não tiveram responsabilidades nem foram parte activa e conivente com a negociação e assinatura dos acordos que nos tolhem a vida.
Agora Gaspar tenta renegociar prazos mais dilatados para o pagamento da divida procurando que nos esqueçamos de que há três anos já o PCP reclamava tambem essa medida durante a campanha eleitoral , exigência depois seguida pelo BE E pela CGTP.
Agora vem António Costa apoiar os comerciantes na sua reclamação da suspensão da lei das rendas mas não podemos esquecer a exigência há muito feita da associação dos inquilinos sobre este tema.
Agora aparece o Passos Coelho a reunir extraordináriamente para tentar definir medidas para o crescimento procurando que nos esqueçamos que elas são há muito uma reivindicação quer do PCP, do BE , dos verdes e da CGTP.
Procuram dar uma nova imagem, mas quem está desempregado, quem vê reduzido os seus salários e direitos, quem tem de emigrar , quem tem de abandonar estudos, quem tem de pagar mais pela saúde, pela educação e por tudo o mais são sempre os mesmos .
È a eles, à esmagadora maioria dos portugueses que só sabem e que só podem viver do seu trabalho que o homem do fraque bate à porta. Mas batem á porta errada.
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