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Guardando coisas


Terça-feira, 18.12.12

Principes e princesas

Princípes e princesas

A entrevista parecia-me estranha. Ás cuidadas interpelações do jornalista respondia António Lobo Antunes com frases curtas , nada afirmativas e carregadas de uma filosofia que me soava deslocada, ”tenho muitas dúvidas, não tenho nenhuma certeza” e “Cada há mais gente culta que é analfabeta” dizia o escritor a certa altura. Cheguei a comentar que parecia uma conversa de malucos. Mas, a três minutos do fim , soltou uma pérola, enorme, perfeita, linda como poucas. Ainda temos tempo? É que Portugal é um país de príncipes. Os portugueses tem uma dignidade enorme, vai acontecer qualquer coisa em Portugal, gente com esta enorme dignidade não podem suportar a austeridade que lhes querem impor. E contava:” Quando estive doente, naquela sala de espera de radioterapia, havia um senhor alentejano, ali de ao pé da fronteira com Espanha, tinha já oitenta e muitos anos, ia de ambulância, trazia sempre o mesmo fato já com muitas nódoas, coitado, a camisa com o colarinho abotoado, sem gravata. Quando chamavam pelo seu nome levanta-se e caminhava com a dignidade um príncipe. Que linda gravata que eu via naquele colarinho que nunca usara gravata .Era um príncipe. Portugal é um país de príncipes. Só temos é que fazer por merece-los”
Cruzei-me com alguns desses príncipes e felizmente não foram assim tão escassos. Homens de tremenda verticalidade e honestidade a toda a prova, simples e humildes, trabalhadores mas não só, anónimos muitas vezes, mas pela sua dignidade todos eles verdadeiros príncipes que muito me honraram com a sua amizade e com os seus ensinamentos .
Embora sábias e belas as palavras de Lobo Antunes elas são contudo incompletas ,pois não pode haver príncipes sem princesas que os tenham parido, e temos tantas mulheres portuguesas cujo brilho só engrandeceria a mais nobre das cortes.
A tia Ana Saramago cujas mãos me amparam ao nascer e cujos olhos foram os primeiros a ver-me, toda ela barranquenha, linda nos seus 97 anos, terna, honesta, sempre prestável, verdadeira como ninguém, tenho por ela uma adoração sem limites.. A vizinha Piedade que já partiu, mulher de Vouzela, amiga, companheira de tantas horas, trabalhadora de sempre, para quem os teares da CUF não tinham mais segredos que a agricultura que insistiu em praticar enquanto a saúde permitiu, as nossas casas não tinham fronteiras. A terna e doce Ilda Moleiro de Palhais, camarada de sempre, amiga sempre presente enquanto pôde com a sua simpatia inexcedível. A Diamantina do Barreiro com o cabelo de uma alvura maravilhosa e um coração de vermelho carregado , com ela me cruzei em tantas lutas.
Mais princesas , muitas mais, merecem a minha admiração, o meu maior respeito e toda a gratidão com que as possa brindar mas outra há a brilhar de forma tão nobre mas ainda assim mais luminosa. Maria de Lourdes , de Moura, que com o Ludgero me fez ,e com ele me criou no meio de mais 9 irmãos e de sacrifícios descomunais. Mais que uma princesa foi a mãe de quem herdei os genes que me moldaram o ser e o estar, a ctez morena e a olheiras profundas .Dela tenho um orgulho imenso. ”Ás boas até dou a camisa mas ás más nem um fósforo levam” dizia quando a irritavam .Mais bela outra não vi.
Que lindas tiaras de princesas que vejo nas suas cabeças que nunca usaram tiaras.
Somos um país de príncipes, disse muito bem António Lobo Antunes. Somos também um país de princesas complemento eu. Só temos é de merece-los e honrar esta bela gente que tanto nos honra.
Tal como o escritor também creio que vai acontecer qualquer coisa em Portugal.
Um país de príncipes e princesas com esta enorme dignidade não pode suportar esta austeridade que lhe querem impor.

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por guerrilheiro às 09:24

Segunda-feira, 16.01.12

Adeus Zé.

Via-te e sabia-te cada vez mais fraco mas o aperto de mão que ainda ontem demos parecia-me conter forças que me faziam acreditar que não partirias tão depressa. Partiste afinal abreviando um sofrimento longo que nunca mereceste. Agradecias-me os breves momentos em que te visitei e agradecer-te-ei sempre o previlégio de ter tido como amigo. Obrigado Zé António.

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por guerrilheiro às 00:23


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